LIÇAO OBJETIVA


1. Uso de Objetos ou Coisas


Ainda que nem sempre, é fato que Jesus ensinou por meio de lições objetivas. Ele buscou fazer da verdade uma coisa concreta e viva, e este método naturalmente deu resultado. Ele se utilizou do seu princípio geral, duma forma ou doutra, mais que de sua prática específica. Temos, porém, vários casos bem definidos e interessantes do emprego que Jesus fez de objetos.


1) A natureza e o valor dos objetosOrdinariamente, quando se fala em lições objetivas, pen¬samos logo no uso de coisas que simbolizam ou sugerem a ver¬dade a ser ensinada. Isso inclui modelos, quadros, desenhos, mapas e outros materiais semelhantes. Um modelo da arca de Noé, ou do tabernáculo, ou do conjunto duma missão es¬trangeira é valiosa ajuda para aclarar e avivar a cena a ser dis¬cutida. Também o uso de bons quadros ou de desenhos no quadro-negro ajuda bastante a apresentação de cenas bíblicas ou missionárias, como de outras verdades.


O planetário numa es¬cola pública, mostrando a posição relativa do sol e da terra, torna muito mais clara a razão da mudança das estações do que uma definição abstrata ou uma explicação como esta: "A mudança das estações deve-se à inclinação do eixo da terra para o plano da eclíptica, ao mesmo tempo que a terra rodeia o sol." Note-se, porém, que objetos simbólicos, como um bocado de pão para representar que Cristo é o Pão da Vida, cu clarear um copo de água escura ou turva por meio de elementos químicos para mostrar como a regeneração limpa o coração do pe¬cador, são métodos não muito recomendáveis porque as crian¬ças podem tomar o figurado pelo real.


O valor dos objetos está no apelo à vista, aos olhos, e no modo definido e prático pelo qual representa aquilo que se descreve. Por meio de coisas que os alunos podem ver, conse¬guimos de modo eficaz prender o pensamento, a atenção e o interesse deles, bem mais do que por palavras que lhes dirigi¬mos; tanto que alguns afirmam que 80% de nossos conheci¬mentos nos vêm pelos olhos. Quase que invariavelmente lembra¬mos bem mais aquilo que vemos do que aquilo que ouvimos. Um dos professores mais fracos que este escritor conheceu en¬sinou uma das lições mais profundas que ele aprendeu na vida, quando desenhou no quadro-negro uma escada mais larga no topo do que no pé, para com aquilo ilustrar que, quanto mais subimos no terreno da educação, maiores são as oportunidades que temos na vida. Os professores Í3rão muito bem em buscar usar desembaraçadamente o quadro-negro.


Eduardo Leigh Pell diz: "Falamos de princípios gerais, quando devíamos mostrar coisas concretas. Não poucos mestres gastam meia hora, tentando explicar uma coisa com palavras de sua boca, quando um lápis, um pedaço de papel e duas ou três linhas retas ou curvas tornariam em dois minutos aquilo tão claro como a luz meridiana." E acrescenta: Se o católico ro¬mano se mostra mais afeiçoado à sua Igreja do que o protes¬tante, é em grande parte porque àquele se deixa ver e manusear as coisas ao passo que ao protestante se exige que as alcance com a imaginação."


2) O uso que Jesus fez de objetosUm dos exemplos mais fortes do uso de lições objetivas pelo Mestre é aquele que nos fala de quando ele tomou um menino e o pôs no meio dos discípulos, para ensinar qual a atitude que devemos tomar para com o Reino de Deus (Mat. 18:1-4). Os discípulos pensavam que o Reino era algo com escalas e ordens hierárquicas, e, portanto, com promoções e dis¬tinções especiais. Assim, ambições e egoísmos ocupavam seus corações, e já discutiam qual deles seria o maior. Daí Cristo perguntou: "Quem é, porventura, o maior no reino dos céus?" (v. 1). Ao que parece, sem qualquer outra palavra de explica¬ção ou de discussão, chamou uma criança e a pôs no meio deles. Vendo eles a modéstia, o desinteresse e a humildade exemplifi¬cados na criança, Jesus lhes disse que deviam tomar a atitude da criança para poderem entrar no Reino. E, daí, acres¬centou: "Quem, pois, se tornar humilde como este menino, esse será o maior no reino dos céus" (v. 4).


Era a maior lição sobre a modéstia e contra o mal do orgulho que a humanidade recebia naquela hora.Temos também exemplo de Jesus lavando os pés a seus discípulos (João 13:1-15). Os povos orientais usavam sandá¬lias. Caminhando por estradas poeirentas, os pés sujavam-se muito. Entrando numa casa, para uma visita ou uma festa, era costume o criado da casa tomar uma bacia de água e uma toalha para lavar e enxugar os pés dos visitantes. Parece que na hora não estava nenhum dos da casa, e Jesus foi fazer o papel de criado. Assim lavou e enxugou os pés dos discípulos. Fez aquilo de modo mui natural e normal, para atender a uma necessidade. Assim agindo, o Mestre mostrou a dignidade e grandeza do serviço humilde. Era uma demonstração do que qualquer pessoa deve fazer em semelhantes circunstâncias.


Era também outra lição sobre a humildade e uma das mais expressivas lições que Jesus deu em sua vida. Terminou aquilo, dizendo: "Se eu, pois, sendo Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Porque vos dei exemplo, a fim de que, como eu fiz, assim façais vós também" (vv. 14 e 15).Noutra ocasião vieram tentá-lo representantes dos fariseus e dos herodianos, e lhe perguntaram se era lícito ou não pagar tributo a César. Sem argumentar, Jesus lhes pediu que mos¬trassem uma moeda de tributo, e lhe trouxeram um denário. Daí, exibindo-lhes o denário, o Mestre perguntou: "De quem é esta efígie e inscrição?" Responderam: "De César." Então o Mestre lhes disse: "Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus" (Mat. 22:15-22).


Jesus fez pelo menos duas coisas, ao usar aquele objeto. Por um lado chamou a atenção, pois que não se falha nunca ao empregar este método. Doutro lado, usou-o como instrumento para ensinar o dever de se pagar tributos, mesmo que fosse a César, e tam¬bém nosso dever de dar ao Senhor, visto que aquilo que possuí¬mos pertence a ele. Mui provavelmente nenhuma outra afirma¬tiva de Jesus tem sido mais citada do que esta, no decorrer dos séculos.Outros exemplos incluem a instrução dada pelo Mestre, quando disse aos do e que sacudissem o pó de seus pés, quan¬do, agindo como missionários dele, deixassem uma casa ou ci¬dade que não os recebesse bem (Mat. 10:14). Isso simboli¬zava que haviam cumprido seu dever para com a comunidade e que já o sangue deles não cairia sobre os discípulos.


Também o caso do paralítico trazido por quatro amigos proporcionou ao Mestre uma demonstração objetiva do seu poder de perdoar os pe¬cados dos homens, quando os escribas o acusaram de blasfêmia, dizendo que só Deus podia perdoar pecados (Mat. 2:6-12). Se ele podia curar a paralisia, também podia perdoar pe¬cados, pois que isto não era mais difícil que aquilo, igualmen¬te o Mestre provou sua divindade, dando vista ao cego, fa¬zendo andar o coxo, dando ouvidos ao surdo, quando João Ba¬tista, assaltado pela dúvida, enviou os mensageiros para lhe perguntar se ele era mesmo o Cristo (Mat. 11:2-6).


Assim, temos abundantes provas de que Jesus usou lições objetivas para tornar seu ensino mais atrativo, mais claro e mais impressionante. Alguns dos seus ensinamentos mais lembra¬dos foram assim apresentados.


Podemos usar o mesmo método, se desejarmos. C. H. Woolston foi pastor da Igreja Batista do Leste de Filadélfia mais de quarenta anos, em grande parte por ter centralizado seu ministério nas crianças c desenvolvi¬do um elaborado sistema de lições objetivas na apresentação de suas mensagens. Podemos usar, com grande proveito, o qua-dro-negro, cartazes e gravuras, bem como reproduções d: qua¬dros notáveis.


J. M. Price - A PEDAGOGIA DE JESUS, O Mestre por Excelência, 3º edição, JUERP

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